Por que tantas mulheres morrem de infarto? De acordo com a médica patologista clínica, Dra. Marilene Rezende Melo, durante palestra no 55º Congresso de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial, em São Paulo, a resposta é simples: porque elas não sentem as dores fortes como os homens. E essa diferença se estende a diversas outras enfermidades. Cada gênero possui as suas peculiaridades.

Precursora e defensora na luta pelos direitos e emancipação das mulheres na saúde, a Dra. Marilene Melo abordou as diferenças de gênero na saúde, e também mostrou o engajamento nessa trajetória, principalmente, pelo direito das mulheres ao tratamento diferenciado, desde a década de 1990.

Entre as doenças mais preocupantes para a saúde das mulheres está o infarto. Além da ausência em sua maioria de uma dor aguda no momento da ocorrência, há um desconhecimento dos sinais de ataque cardíaco pela população em geral e especialmente pelas mulheres. 

A Dra. Marilene também chamou a atenção para as diferenças entre os gêneros para as seguintes doenças:

  • Osteoporose: 

⅓ das mulheres com 65 anos ou mais terão osteoporose com fratura dos ossos. 

⅕  dos homens com 70 anos ou mais terão osteoporose com fratura dos ossos

  • AVC: 5ª causa de morte em homens e 3ª em mulheres, sendo que 53,5% dos eventos recorrentes são em mulheres
  • Estenose carotídea: Mulheres têm carótida de menor calibre, isso faz com que o tratamento cirúrgico (endarterectomia de carótida ) seja realizado com menor frequência em mulheres.
  • Triglicérides: A mulher não pode negligenciar seus valores, pois mesmo que os outros parâmetros estiverem normais, um valor de triglicérides alterado representa fator de risco cardiovascular.
  • Doenças oftalmológicas: Como exemplo, a médica cita a doença do olho seco, que afeta muito mais as mulheres além dos 50 anos. As mulheres têm 1,9 vezes mais olhos secos do que os homens, e mais sintomas, além de serem mais severos.

Há ainda uma gama de diferenças que influenciam no comportamento e na saúde de homens e mulheres, como explicou a médica. Esses fatores incluem a genética, padrões socioculturais, incidências hormonais etc.

Ex-presidente da SBPC/ML e membro da World Association of Societies of Pathology and Laboratory Medicine (WASPaLM), a Dra. Marilene Rezende Melo também integra a Associação Brasileira de Mulheres na Medicina, por meio da qual conseguiu, em 2018, tornar o ensino das diferenças de gênero, com foco especial no infarto, uma obrigatoriedade por lei nas faculdades de medicina dentro do Estado de São Paulo.