Em 10/09 durante o 2º Congresso Virtual da SBPC/ML, o criador da fórmula Martin, Dr. Seth Shay Martin, cardiologista preventivo e lipidologista clínico no Hospital Johns Hopkins em Baltimore, Maryland, defendeu seu estudo e a liberação de jejum para perfil lipídico adotada no Brasil.  

“O Clin Chen Paper de Friedewald, Levy e Fredrickson, de 1972, é um dos artigos mais citados da história da clínica química. Nele foram estudados 9 distúrbios lipídicos familiares de 448 participantes, a partir do colesterol obtido por centrifugação. Esse estudo é referência, pois permitiu muitos avanços na doença cardiovascular. No entanto, temos que admitir que havia muitas restrições na época, o tamanho da amostragem e a tecnologia são alguns dos pontos que podem ser elencados. A simples divisão dos triglicerídeos do plasma por 5 não dá uma estimativa precisa do LDL-colesterol (LDL-c).  Na época não existiam os fármacos que reduzem os níveis de colesterol; tais como a estatina e o ezetimibe.  Com isto, não era possível identificar pessoas com níveis de LDL-c abaixo de 70 mg/dL e a tendência era subestimar estes níveis baixos de LDL-c e que são clinicamente importantes”, destacou Seth. 

No estudo publicado pelo Dr. Seth Martin, que contou com mais de 1 milhão pessoas, dentro destas 15% das amostras apresentam nível de LDL-c abaixo de 70, que não apareciam antes no estudo de Friedewald. 

“Isso significa que se continuarmos utilizando a Fórmula Friedewald, perderemos a oportunidade de fazer a prevenção nesses pacientes. É preciso lembrar o fardo da doença cardiovascular e o papel central que o LDL-c desempenha: a doença cardiovascular tira mais vidas que todos os tipos de câncer e todas as doenças do trato respiratório inferior em conjunto”, comentou Martin.

 

Como está descrito no Guia do Colesterol de 2018 da AHA (American Heart Association) / ACC (American College of Cardiology), a medida do LDL-c é central na prevenção do colesterol e da doença cardiovascular. Especialmente para pacientes de alto risco, quando indicamos estatina em altas doses e nível de LDL-c de 70 mg/dL com acréscimo de ezetimibe.

No entanto vemos que boa parte dos médicos na prática clínica ainda não está utilizando para avaliação dos pacientes colesterol- não HDL. Esta avaliação se torna importante quando os níveis estão abaixo de 70 mg/dL.  

Por esta razão o Prof. Martin elogia tanto a iniciativa brasileira, pioneira, de liberar o jejum para perfil lipídico e incluir a utilização da sua fórmula para cálculo do LDL-c. Ele lembra que é nesse estado que a pessoa passa a maior parte do tempo e que isso propicia a melhora da precisão da prescrição do LDL-c. Tudo isso é importante porque vai ter um impacto para o desfecho de saúde do paciente e vai permitir melhores decisões do médico.  

“Se subestimarmos e tivermos uma falsa cardiopatia, vamos perder a oportunidade de prevenção e de tratar os pacientes aquém do que seria possível”, comentou Martin.  

Questionado sobre o uso do exame de lipoproteína A – lp(a) pelo Dr. Carlos Eduardo dos Santos Ferreira, presidente da SBPC/ML, ele diz que apesar de ainda não existir um medicamento específico para esta lipoproteína, o exame auxilia no cenário completo, pois já se sabe que é um potencial fator que aumento de risco e ajuda a tomada de decisão – em otimizar terapias. E reforça que em breve novas terapias alvo contra a lp(a) estarão disponíveis para se atuar de forma mais efetiva contra esta lipoproteína.